segunda-feira, 5 de maio de 2008

Gostaria muito de escrever sobre o que eu vi hoje. Mas o que eu vi foi tudo tão fugaz.

Como transformar tragédia em poesia? E sopro em vento?
Como arrancar esperança de um sarcasmo avassalador e injusto que ao mesmo tempo justifica a permanente história do caos - que, já não tem mais história?

Como eu vou escrever que aquele homem - que já não sai da minha cabeça, ao descer do Ônibus, riu severo e chorou gargalhando: humildemente, senhora - gemeu. "Vamos tomar sorvete porque só os americanos servem para trabalhar!"

Por que eu devo dizer algo mais que isso, senh=res?

Como EU posso sentir o bafo daquela pinga violentando o meu nariz? Por que EU fui escolhida para sentir isso sendo que eu não tenho ferramenta nem lápis?

Não é justo pra mim que não sou poeta. Não é justo pra mim ver os olhos vermelhos dele e não saber escrever sobre isso.Não é justo pra mim observar cada dedo cheio de calo, e cada unha cheia de graxa, e não saber escrever - mesmo não entendendo.

É injusto não ser poeta mas ter dois olhos e um coração.

Eu me sinto como se cada poro meu fosse afundar numa atmosfera de impotência.


É injusto não ser poeta.

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